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Maíra é também compositora e até assina alguns arranjos, ao lado de Rildo Hora e Cristóvão Bastos |
Há
quem diga, como Chico Buarque, que Martinho da Vila deixou o melhor
para o final. Outros não ocultam a surpresa diante da erudição da moça,
criada em família popular que legou ao país talentos natos como
Márt’nália, além do próprio pai. Aos 25 anos, uma das crias mais jovens
do mestre do samba resolveu dar uma guinada na carreira. Até então
dedicada única e exclusivamente ao piano, Maíra Freitas virou cantora.
“É um processo natural, de amadurecimento. Agora resolvi cantar”,
explica a própria Maíra, com a naturalidade peculiar dos jovens.
Graduada
em música clássica pela Escola de Música da UFRJ, depois de estudos de
piano erudito com Maria Teresa Madeira, Luis de Moura Castro, Andrea
Botelho e Elza Schachter desde os 12 anos, Maíra acredita ter optado por
um lugar mais confortável e feliz, já que a música erudita, segundo
diz, a limitava. Principalmente quanto à composição. “Agora estou mais
livre para tocar e cantar o que quiser”, diz a artista, que, na música
erudita, é fã assumida dos românticos. Bach, Villa-Lobos, Lourenço
Fernandes, Prokofiev, Rachmaninov, Liszt e Chopin estão entre os ídolos
da pianista, que, no entanto, sempre teve a vida permeada pela música
popular, em família.
Prova disso é o primeiro
disco de Maíra, que está lançando pela Biscoito Fino. Já na abertura ela
faz um solo de piano em O voo da mosca, de Jacob do Bandolim, para em
seguida dar garantias de que O show tem que continuar, conforme prega a
composição de Arlindo Cruz, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila. Moacir
Santos e Nei Lopes são os responsáveis pelo Maracatu nação do amor, que
antecede a surpreendente Corselet, da própria Maíra. “É aquele drama de
mulherzinha, de comprar a roupa mesmo se ela não te servir. Eu sou
assim, bem mulherzinha”, diz a respeito da composição, cuja trama narra a
paixão por um corselet rosa tafetá.
De Quinho e
Vitor Paiva, Maíra canta As voltas, com a participação do segundo,
mostrando mais uma vez o talento de compositora em Alô?. A canção
Recado, de Gonzaguinha, que ela vem apostando como música de trabalho, e
Disritmia, em uma interpretação diferenciada, dividida com o próprio
pai, Martinho da Vila, dão prosseguimento ao disco, no qual também
consta a releitura de Monsieur Binot, tendo a autora Joyce Moreno como
convidada. Paulinho da Viola contribui com Só o tempo. O clássico de
Peter Pan Se queres saber, que já embalou muito fim de caso, é a próxima
faixa. Para finalizar, Mambembe, de Chico Buarque, e a instrumental Se
joga, da própria Maíra.
DO SAMBA “Sempre fui do samba, frequento a Lapa desde cedo. Só não o via como
profissão, já que me dedicava à música erudita”, confessa a jovem
artista.
O gosto musical dela é amplo. Vai de Ravel a Radiohead,
passando por Ella Fitzgerald, Elizeth Cardoso, Nana Caymmi, Elis Regina,
Maria Bethânia, Chico Buarque, Djavan, Milton Nascimento, Martinho da
Vila, Whitney Houston, Michael Jackson, Esperanza Spalding e Marisa
Mon
te, entre muitos outros. “Eu, simplesmente, sou uma pianista que
resolveu cantar”, repete.“Componho de onda,
quando estou com vontade”, continua Maíra, cujos estudos de orquestração
e harmonia contribuíram para que ela assumisse boa parte dos arranjos
do disco, ao lado de profissionais experientes como Rildo Hora e
Cristóvão Bastos. Já a produção e direção musical foram entregues à irmã
Mart’nália. “A família foi fundamental em todo o processo”, conclui
Maíra, que, para se aperfeiçoar na área, foi estudar piano popular com
Leandro Braga, Marcos Nimrichter e Sheila Zagury, além de Cristóvão
Bastos.
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