O relógio marcava 18h05. Em pleno horário de rush, no intenso vaivém de passageiros do Metrô, em São Paulo, cerca de 30 pessoas, entre mulheres, homens, crianças e idosos, começaram a dançar. Nenhuma metáfora para justificar o cotidiano estressante da metrópole. O grupo se juntou para dançar literalmente, com direito a professora e até plateia. A atividade integra o projeto "Encontros", que, no mês de julho, oferece aulas gratuitas de dança aos usuários ali mesmo, no espaço cultural da Estação Paraíso, região central da capital paulista, uma das mais movimentadas em horários de pico.
A programação foi iniciada com ballet clássico e vai terminar com dança do ventre. Jazz foi a terceira aula, realizada nesta última quinta-feira, sob o comando da professora Juliana Lopes, 23 anos, do Centro de Danças Mavi Chiachietto. Na primeira fila, à beira do palco, o analista de sistemas Luiz Lavareda, 55 anos, pai de Luana e marido de Rosana, se posiciona para acompanhar as instruções. Ele começa bem, apesar dos exercícios de aquecimento exigirem mais flexibilidade que ele demonstra ter. "Vamos lá, flexiona as pernas, estica os braços", diz Juliana. Luiz, um tanto desequilibrado, vai em frente, não desanima.
Com pouco mais de 15 minutos de dança, os primeiros fundamentos são introduzidos. Começa com plié, passa pelo chassé, chega o contratempo e lá vem a pirueta. Nem dá tempo para recuperar o fôlego, a professora avisa: "agora vamos juntar todos os passos, e com música". O sapato de salto no piso de borracha impede um melhor desempenho, mas as mulheres da turma se divertem a cada movimento desengonçado ou com a perda inesperada de equilíbrio.
A coreografia improvisada dos alunos nem de longe parece jazz, maseles continuam ali até o fim, assim como alguns idosos presentes no local, que optam por apenas assistir a aula. Todos eles sob olhares curiosos de outros usuários reunidos na parte externa do espaço cultural. Quarenta minutos depois, a professora Juliana encerra a aula, feliz com a experiência inédita de ensinar jazz no Metrô.
"Slow morto"
Um dos mais dedicados, o analista de sistemas Luiz Lavareda confessa ter um "corpo duro" para dançar e faz um trocadilho bem humorado para definir sua performance. "Logo senti que estava meio enferrujado, sou mais um 'slow morto' (em referência à técnica de captura ou reprodução de vídeos slow motion, ou seja, movimento lento). Mas acho que me saí bem e acho também que homem deve participar de aulas como esta", incentivou ele.
Já a mulher dele, a dona de casa Rosana Oliveira, 36 anos, admite que não leva muito jeito para a coisa. "Eu comecei, mas aí percebi que atrapalharia menos se ficasse sentada", brincou. Ao seu lado, ainda sorridente, a professora Silvia Cardoso, 48 anos, admite: "coordenar os passos não é fácil, não! Só que eu gostei (da aula) e espero voltar para pagar outro mico", disse.
A professora Juliana Lopes explica que a dança exige muita técnica, treino e dedicação, porém, não é impossível aprender alguns passos em menos de uma hora. "É possível aprender sim. Hoje, por exemplo, apesar do pouco tempo, deu para ensinar as noções básicas. Fiquei ansiosa porque nunca tinha dado aula em metrô, mas eles foram muito receptivos. (A dança) incentiva as pessoas a se mexer, fazer alguma atividade física. Foi ótimo", disse ela.
Como "prêmio" aos alunos dedicados e plateia fiel, a professora Juliana convidou o público a conferir uma coreografia em homenagem ao cantor americano Michael Jackson, com a participação de alunos do Centro de Danças Mavi Chiachietto, que promove as aulas em parceria com o Metrô. Terminada a apresentação, o local voltou à correria habitual. Próxima parada na Estação Paraíso: dança do ventre.
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